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Módulo 2 - Anna O. – Breuer e Módulo 3 - O Mito Édipo

O Caso Anna O. ­ Freud estava especialmente interessado na mais peculiar de todas as pacientes de seu colega, a célebre Anna O., que Breuer havia começado a tratar em 1880. 

Anna O. ­ era uma mulher de 21 anos que adoeceu enquanto cuidava de seu pai, que depois morreu vítima de um abscesso tubercular. Sua doença começou com uma tosse intensa. Em seguida ela desenvolveu vários outros sintomas físicos, como sérios distúrbios da visão, da audição e da fala, impossibilidade de ingerir alimentos, paralisia de três extremidades com contrações e anestesias, bem como lapsos de consciência e alucinações. Breuer diagnosticou a doença de Anna O. como um caso de histeria, e elaborou, gradualmente, uma terapia que acreditava ser efetiva na dissolução daqueles sintomas. Ela manifestava dois estados distintos de consciência: em um deles, era uma mulher jovem relativamente normal; no outro, era uma criança problemática e teimosa. Breuer observou que a alternância entre as duas personalidades distintas parecia ser induzida por alguma forma de auto-hipnose, e ele foi capaz de causar a transição de uma para outra personalidade, colocando Anna O. em um estado hipnótico. Breuer sabia que Anna fora muito apegada ao pai e cuidara dele junto com a mãe enquanto ele estava em seu leito de morte. Durante seus estados de consciência alterada, Anna podia recordar fantasias nítidas e sentimentos poderosos que ela experimentara enquanto seu pai estava morrendo. Breuer ficou admirado ao observar que à recordação de sua paciente de circunstâncias carregadas de afeto durante as quais seus sintomas haviam aparecido levaram estes mesmos sintomas a desaparecer. A própria paciente descreveu o tratamento como uma "limpeza de chaminé" e como sua "cura pela fala". 

Ela ficou tão entusiasmada que continuou a discutir um sintoma após outro. Por exemplo, ela lembrava estar sentada ao lado do pai enquanto a mãe estava ausente e ter uma fantasia ou devaneio sobre uma serpente. Em sua visão, a serpente estava prestes a picar seu pai. Ela tentou afugentar a serpente, mas seu braço ficara dormente em decorrência de ter ficado dobrado sobre o encosto de sua cadeira. A paralisia permaneceu até que ela fosse capaz de recordar a cena sob hipnose e recuperar o uso do braço. Em determinado período de sua doença, durante algumas semanas, Anna O. recusava-se a beber, e saciava sua sede com frutas. Certa noite, durante um estado de hipnose auto-induzida, ela descreveu uma cena em que ficara enojada ao ver um cachorro bebendo água de um copo. Logo depois, pediu água e, então, acordou de sua hipnose com um copo nos lábios. Em seu relato de caso, Breuer tratou o episódio narrado por Anna O. durante o transe, como o relato verdadeiro do incidente responsável por sua aversão a beber. E disse ter concluído que a maneira de curar um sintoma particular de "histeria" era recriando a memória do incidente que o havia provocado originalmente, desencadeando assim uma catarse emocional e induzindo o paciente a expressar todo sentimento associado ao fato. O desaparecimento repentino de um dos vários sintomas de Anna O. forneceu, assim, a base do que Breuer chamou posteriormente de "procedimento técnico terapêutico". Segundo Freud e Breuer, esse método catártico*, aplicado sistematicamente a cada um dos sintomas de Anna resultou na cura completa da histeria. Breuer ficou encantado com esta extraordinária paciente.

Ele despendia tanto tempo com ela que sua esposa ficou enciumada e ressentida. Assustado pelas conotações sexuais das reclamações da sua esposa, ele abruptamente terminou o tratamento de Anna O.. Algumas horas após o término do tratamento, Breuer foi chamado à beira da cama de Anna O., que estava em meio a uma crise. Ele encontrou-a em um estado agitado, com fortes dores de um parto histérico. Embora não tivesse percebido quaisquer sentimentos da paciente em relação a ele, a gravidez fantasma refletia os anseios eróticos intensos de Anna O. por Breuer. Este acalmou a paciente induzindo um transe hipnótico e, em um estado de agitação extrema, organizou uma partida imediata para uma segunda lua de mel com sua esposa em Veneza. Embora Breuer tenha considerado a experiência com Anna O., muito desconcertante, Freud ficou intrigado pelo poder das lembranças inconscientes e dos afetos suprimidos de produzir sintomas histéricos. Breuer estava relutante em publicar seu relato, mas Freud insistiu que ele o escrevesse de memória 13 ou 14 anos após sua ocorrência. A colaboração de Breuer e Freud resultou na publicação de "Comunicação Preliminar", em 1893. Neste artigo, eles articulam a ligação causal entre traumas psíquicos e sintomas histéricos. Com a publicação em 1895 de "Estudos sobre a Histeria", Breuer e Freud apresentaram um tratado clínico muito mais sofisticado sobre a patogênese e o tratamento dos sintomas histéricos. Na introdução, em meio a diversas citações explícitas sobre a influência de Charcot, os autores sugerem que a memória recalcada de um trauma psíquico age como um corpo estranho, que muito depois de penetrar no organismo deve continuar a ser visto como um agente que ainda está ativo. O paciente histérico sofre de "reminiscências", segundo Freud. Em outras palavras, uma idéia reprimida incompatível é a fonte das manifestações sintomáticas. O paciente experimenta um trauma na infância que provocara sentimentos esmagadores de natureza intensamente desagradável. A experiência traumática representava uma idéia incompatível ao paciente e foi, portanto, intencionalmente dissociada ou reprimida da consciência. A excitação nervosa associada à idéia incompatível foi transformada ou convertida em canais somáticos que produziram sintomas histéricos. Com isso, tudo o que restou na percepção consciente foi um símbolo mnemônico apenas remotamente conectado ao evento traumático, freqüentemente por meio de ligações mascaradas. Freud supôs que, se a lembrança da experiência traumática pudesse ser trazida de volta à percepção consciente do paciente, junto com o afeto suprimido associado a ela, os sintomas desapareceriam quando o afeto fosse descarregado. O caso Anna O. desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento do pensamento de Freud.

Ela foi freqüentemente descrita como a primeira paciente psicanalítica, afirmação que o próprio endossou em uma conferência na Clark University (Estados Unidos):

... declarei então que não havia sido eu quem criara a psicanálise: o mérito cabia a Joseph Bruer, cuja obra tinha sido realizada numa época em que eu era apenas um aluno preocupado em passar nos exames (1880-2) (Freud, 1914, pg.16).

Freud, no entanto subestimava seu papel, a psicanálise nunca teria aparecido se ele não transformasse a "cura pela fala" de Breuer, ligando-as às idéias de Charcot a respeito da histeria traumática e à sua própria técnica de reconstrução de memórias recalcadas pela interpretação e associação livre. Quase todos os pacientes que Freud tentou analisar no início de sua carreira assemelhavam-se a Anna O. em ao menos um ponto: eles procuravam Freud não por causa de algum problema emocional, mas por estarem sofrendo de sintomas físicos. 

Por exemplo, a primeira paciente de Freud, Emmy Von N., sofria de dificuldades de fala que ele descrevia como "interrupções espásticas que resultam em gagueira". Ela também reclamava de "movimentos convulsivos freqüentes, com tiques na face e nos músculos do pescoço" e costumava repetir compulsivamente exclamações verbais e produzir sons de estalidos. Outra paciente, Lucy R., uma governanta inglesa, sofria de estranhas alucinações olfativas em que predominava o cheiro de pudim queimado. Outra ainda, Elisabeth Von R., veio a Freud porque há mais de dois anos sofria de dores nas pernas. Em todos esses casos, Freud determinou que a doença de seus pacientes era histeria e procurou trazer à tona o incidente traumático que supostamente teria produzido os sintomas.

Nessa época, Freud acreditava que, no estágio final da terapia, seria proveitoso descobrir de quais maneiras as coisas estão conectadas e dizer ao paciente sua descoberta. Quando, no entanto, ele apresentou suas conclusões a Elizabeth Von R., afirmando que sua doença havia sido produzida pela sua paixão por seu cunhado, ela objetou dizendo que isso não era verdade. Freud, no entanto, persistiu em sua explicação e declarou que sua paciente estava curada. Em que diz respeito à sexualidade, apesar da psicanálise começar como um trabalho conjunto de Breuer e Freud, este último, entretanto, a explorou gradualmente em uma direção que o levou ao confronto com seu colega. A razão para tal divergência era o sexo. Mais particularmente, o aspecto central dado por Freud à sexualidade, na teoria que ele estava então começando a desenvolver sobre a histeria e suas origens. Uma das fontes do interesse de Freud pelo sexo como fator causal de doenças deve ter vindo do próprio Charcot, o professor que Freud reverenciava acima de todos. Ele provavelmente se lembrava de uma recepção em 1886, na qual ele ouvira Charcot afirmar que certa jovem devia seus problemas médicos ao desempenho sexual inadequado de seu marido. Em 1888, Freud já postulava que aspectos vinculados à vida sexual desempenham um papel crucial na etiologia da histeria. Na verdade, tanto Breuer quanto Freud foram levados à idéia de que experiências sexuais são uma causa potencial da histeria. Freud diferia de Breuer em sua posição de tratar o fator sexual como à única fonte da histeria. Freud foi levado a pensar desta maneira pela sua admiração pela teoria viral das enfermidades, desenvolvida por Koch e Pasteur.

Essa nova teoria afirmava que toda a doença genuína tinha uma única causa, bem como que um dos principais propósitos da pesquisa médica consistia em descobrir o micro-organismo ou outro agente responsável por ela.

Se a histeria era uma doença genuína, como acreditava Freud, baseando-se em Charcot, então ela deveria ser causada por um único agente patogênico. Na visão de Freud, essa causa era sexual. Se havia razões médicas para que Freud colocasse o sexo no centro da psicanálise, devia haver também razões psicológicas. Certa vez ele observou que a "a humanidade sempre nutriu o desejo de abrir todos os segredos com uma única chave". Ele mesmo parece ter sido particularmente motivado por tal necessidade, de modo que sua insistência em uma explicação sexual única para a histeria o levou, por fim, a romper com Breuer. Este, em 1907, afirma que Freud era levado a formulações absolutas e exclusivas, que o levava, em sua opinião, a generalizações excessivas. Acerca da teoria da sexualidade infantil, o tratamento de histéricos durante o início da década de 1890 convenceu Freud de que a sedução sexual na infância desempenha um papel importante na etiologia das neuroses. 

Muitos dos seus pacientes relatavam tais seduções por babás, pais e cuidadores, e Freud acreditava que as lembranças reprimidas de traumas sexuais reais criavam os sintomas neuróticos. Na segunda metade dos anos 1890, começou a reconsiderar este ponto de vista e finalmente fez uma mudança dramática em seu pensamento.

Fantasias sobre sedução sexual por figuras parentais começaram a deslocar a sedução real como fator patogênico crucial nas neuroses. Embora as razões do desvio não estejam inteiramente claras, diversas razões foram sugeridas: primeiro trabalhando a partir da hipótese de que a sedução na infância é a causa da neurose, Freud fora incapaz de levar um único caso analítico a uma conclusão inteiramente satisfatória, segundo que ele sempre fora cético em relação aos relatos de atos perversos por pais e a freqüência da histeria tornou difícil para ele acreditar que tantos pais sexualmente abusadores pudessem existir na Viena dos seus dias, terceiro que alguns dos relatos de seus pacientes soavam tão fantásticos que se tornou difícil para Freud distinguir a diferença entre realidade e ficção em tais relatos. Ema Eckstein, por exemplo, relatou uma "lembrança" de encontrar o demônio e ser torturada enquanto ele inseria agulhas em seus dedos. Muitos outros pacientes relataram histórias de tortura e possessão ligadas à bruxaria, quarto: tanto na sua auto-análise como em investigações clínicas posteriores, Freud convenceu-se da importância de processos psicológicos e do papel da fantasia em distorcer a realidade para adaptar-se a desejos. Embora os escritos subseqüentes de Freud indicassem que ele jamais abandonara inteiramente sua crença na existência de seduções sexuais generalizada por pais, no final dos anos de 1890 ele claramente passara para uma posição de enfatizar as fantasias sexuais infantis como o núcleo das neuroses. Adotando uma teoria psicodinâmica da sexualidade infantil na qual a vida psicossexual da criança ocupa o palco central, a psicanálise tomara uma nova direção, tornando-se uma psicologia profunda. A criança não era mais retratada como uma vítima inocente de adultos maldosos, mas era vista como um ser sexual com poderosas fantasias e desejos. Sobre o complexo de Édipo, em 1897, Freud embarcou em um processo de autoanálise no qual procurava explorar seu próprio inconsciente, examinando seus sonhos e lembranças. Com isso, como escreveu seu biógrafo Ernest Jones "ele estava trilhando um caminho até então intocado por qualquer ser humano".



Módulo 3  - O Mito Édipo

O tema de Édipo já fora ligeiramente mencionado na Ilíada e na Odisséia, compostas no século IX a.C., mas foi versado em poemas, por volta do século VIII a.C., na Edipodia, e transformado em peça teatral nos séculos VI e V a.C. por Ésquilo (525556 a.C.), Sófocles (496-406 a.C.) e Eurípedes (480-406 a.C.). A mais famosa dessas versões é "Édipo Rei", de Sófocles, elogiada por Aristóteles como uma peça modelo do teatro grego. Outros autores, com variações, abordaram o tema: na literatura, Seneca, Robert Garnie, Corneille, entre outros. Na música, Mendelson, Moussorgky e Stravinsky. Sófocles nasceu em Colona, subúrbio de Atenas e morreu aos noventa anos. Aos vinte e oito, venceu um importante certame do teatro grego, do qual participou também Ésquilo. Presenciou a expansão do Império Ateniense, sob Péricles e sua decadência com a Guerra do Peloponeso. Participou da vida política de seu país, tendo sido tesoureiro e estratego de Atenas. Compôs cento e vinte e três peças para teatro, venceu vinte e quatro concursos e obteve o segundo lugar em vários outros, realizando uma tarefa inigualável, no teatro grego. Sete de suas peças chegaram até nós. O Édipo que retratou, à diferença de outros heróis da mitologia, não triunfou pela força física, não tomou parte em nenhuma batalha, não é filho de deuses nem é distinguido no cenário épico por qualquer façanha especial. A ele não se elevaram altares nem são prestados cultos. A genealogia conhecida diz que Cádmo (fundador de Tebas) e Harmonia eram pais de Polidoro, o qual, por sua vez, era pai de Labdaco, que, com sua mulher Nictis geraram Laio, pai de Édipo. Quando Labdáco, rei de Tebas, morreu, seu filho Laio tinha apenas 14 anos e era muito jovem para assumir os encargos de governar. Lico, seu fiel amigo, tornou-se regente do reino, mas foi logo destronado por Anfião e Zeto e o jovem, temendo ser morto por eles, fugiu para Élida. Lá, foi acolhido pelo soberano Pélope e apresentado a seu filho Crisipo, que por ele se apaixonou. Esse fato foi mantido em segredo, mas o filho do rei foi correspondido por Laio, em sua paixão. Quando o amor entre ambos foi descoberto, o tebano rapta-o e inicia Crisipo no homossexualismo. Ante o escárnio do povo e a vergonha do pai, Crisipo acaba por suicidar-se. Dessa forma, Laio privou a casa real de um herdeiro e iniciou o homossexualismo na Grécia. Ele, então, recebeu de Pelope a maldição de que não devia ter filho e que se o tivesse, a desgraça o atingiria, bem como às suas gerações futuras. Quando, mais tarde, Laio voltou ao seu reino, lutou contra os usurpadores, retomou a coroa e desposou Jocasta, que, assim, tornou-se rainha. Estando ela grávida, Laio dirigiu-se ao templo de Apolo, em Delfos, para saber do oráculo o destino da criatura em gestação. O oráculo não lhe omite a verdade: o ser que Jocasta traz no ventre matará o seu pai e levará à ruína o palácio de Tebas. 

De volta, relata a profecia à esposa, e esta muito se inquieta. 

Resumo: 

Cádmo / Harmonia
Polidoro, pai de
Labdaco / Nictis
Laio / Jocasta
Édipo

Ao nascer-lhes um filho, desejosos de fugir à desgraçada predição, Jocasta manda um servo, Forbas, atirá-lo do Monte Citeron, tendo Laio furado seus pés e os atado com correias. (donde o nome Édipo, que quer dizer "pés inchados"). Esse servo, penalizado da criança a entrega ­ sem que o rei e a rainha de Tebas soubessem ­ aos pastores que serviam na casa real de Corinto e que, ocasionalmente, pastoreavam no local, e que o levaram para aquela corte. 

Como a rainha de Corinto ­ Mérope ­ não podia ter filhos, criou-o como se fosse próprio, com a concordância do rei Pólibo. Édipo cresceu feliz, como felizes estavam, também, seus pais até o dia em que, numa festa popular ouviu de um bêbado sua verdadeira história, na qual ele, a princípio, não acreditou. Angustiado pela dúvida, interroga seus "pais" que desmentem a história. Mas ele não se convence.

Resolve, então, consultar o oráculo de Delfos sobre seu futuro e deste ouviu o que lhe estava reservado: matar seu pai e casar-se com sua mãe. Acreditando-se filho dos reis de Corinto, resolveu fugir, para que a predição não se cumprisse, renegando tudo a que tinha direito. 

Dirigiu-se em direção oposta ­ Tebas ­ acreditando que assim se afastava da sina que lhe tinha sido reservada. Depois de vagar a pé pela estrada, adormeceu no meio dela, atravancando a passagem, junto à encruzilhada de Megas, onde as rotas de Tebas e Dáulis se bifurcavam. Um dos viajantes ­ Polifontes ­ o interpelou bruscamente, desejando passagem para a caravana de seu amo, Laio, a qual constava de cinco pessoas e de um único carro, puxado por dois cavalos. Édipo, reagindo à maneira rude como foi abordado, agrediu-o, violentamente. Laio quis vingar o agredido e chicoteou o agressor, mas foi morto por ele, que ainda matou mais dois membros da caravana, tendo escapado apenas um, o qual contou a Jocasta o ocorrido, sem saber, no entanto, quem era o caminhante que praticara aqueles assassinatos. Depois disso, Édipo dirigiu-se para Tebas. Com a morte de Laio, lá reinava Creonte, irmão da rainha Jocasta, que governava com ele. Uma peste assolava a cidade: as pessoas morriam, o gado definhava, as plantas secavam, por todos os cantos da cidade, havia gritos de lamento. À entrada da cidade estava postada a Esfinge ­ monstro que tinha cabeça e busto de mulher, corpo de leão, asas de pássaro, garras de leão, calda de dragão ­ que propunha enigmas aos passantes e devorava aqueles que não conseguiam decifrá-los e que fora mandada por Hera, mulher de Zeus, como punição aos antigos amores de Laio e Crisipo. O enigma proposto a todos que pretendiam entrar em Tebas, era: "Qual é o animal que tem quatro pés de manhã, dois ao meiodia e três ao entardecer?" Como Édipo decifrou-o, de pronto, respondendo: "O homem, que, na infância, arrasta-se sobre os pés e mãos; na idade adulta mantém-se sobre os pés; e na velhice precisa usar um bastão para andar". A Esfinge, desnorteada, propõe-lhe um segundo: "São duas irmãs. Uma gera a outra. E a segunda, por seu turno, é gerada pela primeira. Quem são elas?". Édipo respondeu com acerto: "A luz do dia e a escuridão da noite". O destino tinha determinado a ela que morresse se algum mortal adivinhasse seus enigmas. Envergonhada com as decifrações de Édipo, a Esfinge atirou-se do alto do paredão em que ficava o Monte Ficeu, suicidando-se. Tebas regozijou-se e Édipo foi saudado como herói. Como salvara a cidade deste flagelo, os seu habitantes fizeram-no seu soberano e foi lhe dada a mão da rainha Jocasta, conforme estava prometido. Creonte que era, então, rei de Tebas, associou-se a essa alegria do povo e entregou-lhe pacificamente o trono, como fizera espalhar por toda a Grécia que o faria, caso alguém decifrasse os enigmas da Esfinge. Com a rainha, Édipo viveu feliz por vários anos e com ela teve quatro filhos: Etéocles, Polinice, Ismêna e Antígona. Os dois primeiros acabaram por matar-se um ao outro, em uma luta. Antígona tornou-se a filha dedicada que acompanhou Édipo depois de sua desdita. Ismêna, depois da tragédia, continuou em Tebas. Mas, anos depois de sua chegada a Tebas, uma nova onda de infelicidade assolou a cidade. Novamente, as plantas secavam, o gado morria, as pessoas, famélias e doentes, definhavam. O sacerdote de Júpiter, da cidade, apelou a Édipo, que mandou Creonte, seu cunhado, a Delfos, saber do oráculo o que devia ser feito para salvar a cidade. Consultado, o oráculo de Apolo, que falava pela boca de Palas, vaticinou que tal desgraça só cessaria quando o assassino de Laio fosse descoberto e vingado. Édipo se propôs a faze-lo e a dar ao culpado a maior das punições então existentes na Grécia: o desterro. Na medida que investigava, as evidências de sua própria culpa vão-se acumulando, mas Édipo não se detém e segue avante. Faz, então, insistentes perguntas à Jocasta, sobre a morte de Laio. Por incitação do Corifeu, é chamado à presença do rei um velho, já cego, chamado Tirésias, filho de Evero e da ninfa Cariclo, adivinho capaz de ver o passado e o futuro e de interpretar o canto dos pássaros. Chega, trazido por dois emissários, mas em vista da verdade que conhece, nega-se de pronto, a responder a qualquer pergunta e pede para ser mandado para casa. Édipo desconfia, então, de que o assassino que procura seja o próprio Tirésias e coloca em dúvida seus poderes. Encolerizado com a insinuação, revela a verdade: o culpado é o próprio Édipo. Este, a princípio, desconfia de uma trama entre Creonte e Tirésias para usurparem-lhe o trono e profere, contra o primeiro, uma sentença de morte. Jocasta põe em dúvida a sabedoria dos adivinhos e dos oráculos, citando para exemplificar suas idéias, que um oráculo houvera predito que Laio morreria pela mão do filho e, no entanto, ele havia morrido em combate, numa encruzilhada... Édipo continua a investigar: Um emissário chega de Corinto e comunica-lhe que Pólibo havia morrido e que o povo o desejava como rei. 

Ele mesmo, então, pensa que como seu pai morreu longe de suas mãos, o oráculo não tinha realmente razão... Para confirmar a falibilidade do oráculo, o enviado diz-lhe que ele nem sequer era filho de Pólibo, mas que fora recolhido por ele, de um servo de Laio, ao pé do Monte Citeron... Esse mensageiro identifica, ainda, o servo, já velho, que havia entregado a criança a serviçais de Pólibo. Ouvindo tal alusão, Jocasta entende toda a verdade e, depois de grande desespero, enforca-se. Édipo manda vir a sua presença o mensageiro que há muitos anos se condoera dele e não o atirara do penhasco, conforme havia sido ordenado. Depois de muita vacilação, este lhe conta a verdade. Édipo corre ao quarto para chorar sua desgraça junto à mãe-esposa. Ao vê-la enforcada, arranca um broche das suas vestes e com ele vasa os próprios olhos. Esquálido, mendigo e cego, ele é banido de Tebas. Antígona o acompanha em seu longo caminhar sem rumo, até chegar à Colona, no burgo de Ática, governada por Teseu, onde encontra abrigo no templo de Euêmides e é, afinal, consolado por Apolo, - que predissera a sua sina ­ abençoando o lugar onde ele foi enterrado. Ismênia permaneceu no reino, disposta a salvaguardar os interesses do pai. Etéocles e Polinice abandonaram-no à própria sorte. Depois da morte de Édipo, os dois filhos homens combinaram que se revezariam no trono e que reinariam um ano cada um, devendo o outro ausentar-se de Tebas, nesse tempo, para evitar disputas. Etéocles reinou primeiro e, ao final de seu período, negou-se a entregar o trono a Polinice que arregimentou contra Tebas os exércitos de Adrasto, seu sogro, na guerra que ficou conhecida como "Os Sete contra Tebas", já que os exércitos de invasores eram comandados por sete chefes. Os dois irmãos acabaram matando-se mutuamente, numa luta. Creonte, que então assumira o trono, ordena que se prestem as devidas honras a Etéocles e que o corpo de Polinice seja deixado insepulto e sem honras, por ter ele se levantado em armas contra sua pátria. Antígona opôs-se a essa sentença e burlando a proibição do rei, prestou honras e sepultou o irmão, pelo que foi condenada à morte, pelo rei. 

Depois de muita ponderação de Tirésias, o rei volta atrás em sua sentença e vai, pessoalmente, salvar a sobrinha condenada. Chega tarde: ela havia se enforcado. Diante disso, Heron, seu filho e noivo de Antígona, suicida-se com uma espada, levando sua mãe, Eurídice, a matar-se com um punhal.