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Módulo 4 – A Pedra Angular e Módulo 5 - Primeira Tópica do Aparelho Psíquico

Freud descobriu esta pedra angular do desenvolvimento psíquico durante sua própria autoanálise e em seu trabalho clínico com pacientes nos quais fantasias de incesto com o genitor do sexo oposto emergiam com regularidade em associação a sentimentos de inveja e fúria assassina em direção ao progenitor do mesmo sexo. Estabelecendo uma analogia entre tais fantasias e o mito grego de Édipo que, sem o saber matou seu pai e casou com sua mãe, Freud denominou a constelação intrapsíquica de complexo de Édipo. O complexo de Édipo apresenta um desafio ao desenvolvimento da criança e a resolução do dilema que ele propõe difere de acordo com o gênero. Freud colocou o complexo de Édipo como o núcleo das neuroses. Ainda que suas aspirações a respeito de sua nova teoria fossem de início, modestas, elas foram aumentando gradualmente, até que ele reconhece que a psicanálise pode se vangloriar de ter realizado a descoberta do complexo de Édipo, e que só isso já bastaria para incluí-la nas mais importantes aquisições da humanidade. Na interpretação dos sonhos, a auto-análise de Freud também contribuiu para o seu reconhecimento do significado dos sonhos. Um de seus métodos principais ao conduzir sua própria análise era confiar em sonhos e na exploração associativa destes sonhos. A interpretação dos sonhos que surge em 1900, de fato, conta com muitos dos sonhos de Freud como exemplos ilustrativos. Um dos seus métodos principais ao conduzir sua própria análise era confiar em sonhos e na exploração associativa destes sonhos. Em sua obra, Freud apresentou a noção de que um sonho é a satisfação disfarçada de um desejo inconsciente de infância que de outro modo não se encontra consciente na vida em vigília. Considerado por muitos como a sua melhor obra, atualmente o livro ainda é à base do trabalho psicanalítico clínico com sonhos. A sexualidade infantil ­ Em 1905, Freud publicou Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Ele considerava este trabalho como segundo em importância em relação à Interpretação dos Sonhos. Ao contrário da crença popular, as idéias de Freud não criaram tumulto entre a comunidade científica ou até mesmo entre o público. A Viena dos seus dias estava exposta a uma grande quantidade de literatura popular que discutia abertamente uma série de problemas sexuais. No entanto, a noção de Freud de que as crianças são influenciadas por impulsos sexuais tornou difícil para algumas pessoas aceitar a psicanálise ao longo de sua história de 100 anos. O livro de Freud foi significativo porque apresentou três importantes princípios da teoria psicanalítica. 

Primeiramente, Freud ampliou a definição de sexualidade para incluir formas de prazer que transcendem a sexualidade genital. Em segundo lugar, Freud estabeleceu uma teoria do desenvolvimento da sexualidade infantil que delineou os destinos da atividade erótica do nascimento à puberdade. Por fim, estruturou uma vinculação conceitual entre neuroses e perversões. O caso Dora ­ Uma das características mais interessantes desses primeiros casos - O fato de que, em geral, os pacientes que o procuravam reclamavam de sintomas físicos ­ também encontrados no célebre caso Dora. Dora procurou Freud em 1900 e o relato do seu caso foi publicado em 1905. Dora era uma garota atraente de 18 anos que sofria de acessos de tosse. Em certo momento, ela foi afetada por uma febre, diagnosticada como apendicite.

Na mesma ocasião, começou a arrastar o pé direito. Pouco depois Dora pareceu desenvolver uma tendência suicida e chegou a sofrer um acesso convulsivo que a fez perder a consciência. Também apresentava catarro e problemas estomacais. Foi nessa situação que Freud começou a tratá-la. Freud não hesitou em afirmar que se tratava de mais um caso de histeria. 

Ele concluiu, que a tosse espasmódica de Dora, que, referia-se a um estímulo excitante de cócegas na garganta, era de fato a representação somática de uma cena na qual ela imaginava o Sr. K, um amigo de seu pai que a assediara sexualmente, fazendo sexo oral com sua mulher. Quando relatou o caso, Freud escreveu que pouco depois de Dora ter aceitado silenciosamente tal explicação, as tosses cessaram. Ele acrescenta não querer insistir muito nesse ponto, até porque suas tosses com frequência desapareceriam espontaneamente. Em outro momento da análise, no entanto, Freud concluiu que, embora Dora tivesse rejeitado o assédio do Sr. K. com repulsa, na verdade ela estava apaixonada por ele. Freud então, como era de hábito, informou sua opinião à paciente. A explicação foi negada por Dora, da maneira mais enfática possível. Mas Freud entendeu, de que quando Dora disse "não" com insistência, indicava que ela, na verdade, procurava dizer "sim". A análise freudiana de Dora acabou terminando quando ela "fugiu", ou seja, não voltou para o tratamento. Freud ficou claramente magoado com o final abrupto da relação terapêutica. Mas concluiu dizendo, que alguém que evoca os piores demônios que habitam o seio humano, na tentativa de combatê-lo, pode querer sair da batalha ileso.

O homem dos lobos - Com o desenvolvimento da psicanálise, Freud começou a atender mais pacientes que vinham procurá-lo em função de distúrbios emocionais, do que por sintomas físicos. Um desses pacientes foi o nobre russo Serge Pankejeff, conhecido como o homem dos lobos, um dos casos freudianos mais famosos Ele procurou Freud em 1910 e sua análise durou mais de quatro anos.

Ainda que sua doença inicial fosse gonorréia, ele acabou ficando deprimido, sendo diagnosticado como portador de distúrbio maníaco-depressivo. Em seu relato de caso, Freud enfatizou muito um sonho que o paciente recordava ter tido aos quatro anos de idade. Ele, no sonho, se lembrava de que estava dormindo em sua cama quando a janela se abriu de repente, vendo horrorizado, aproximadamente sete lobos brancos sentados em uma árvore do jardim. Os lobos eram muito brancos e tinham caudas grandes como as de raposas; estavam calmos e olhavam para Serge atentamente. Aterrorizado pelo medo de ser comido, acordou gritando. De acordo com a análise de Freud, realizada ao longo de alguns anos, o sonho era a versão mascarada de uma cena primitiva traumática. Os seis ou sete lobos representavam os pais do paciente (a diferença numérica teria sido produzida pelo inconsciente para mascarar o verdadeiro sentido do sonho). A tranqüilidade dos lobos é uma referência invertida aos movimentos violentos do ato sexual. A brancura dos animais remete à brancura dos pais sem roupas. Os lobos olhando para a criança representam outra inversão, cujo verdadeiro sentido é a criança observando os pais. O tamanho de sua cauda significa, da mesma forma invertida, uma cauda que foi cortada ­ a idéia que, por sua vez, está associada ao medo de castração. 

Estas e outras estratégias interpretativas permitem a Freud afirmar que o sonho era, realmente, uma lembrança mascarada da ocasião em que, aos dezoito meses de idade, o jovem Serge acordou de seu sono em uma tarde de verão no mesmo quarto em que seus pais haviam se recolhido, seminus para uma sesta. O garoto então testemunhou, por três vezes consecutivas, seu pai tendo relações sexuais com sua mãe, que estava de quatro. Ao expor tal interpretação do sonho, Freud esperava ter descoberto o incidente primitivo traumático que originara doença. No entanto, constatou que o paciente não estava fazendo progressos. Em uma tentativa de quebrar esta "resistência", determinou uma data para o fim do tratamento. Foi depois disso, segundo o relato do caso, que, após quatro anos de análise, emergiu alguma lembrança de que, em idade muito precoce, o paciente deve ter tido uma babá à qual era muito ligado. Quando Serge tinha dois anos, ele a vira limpando o chão. Ele então urinou e ela o ameaçou com a castração. No entender de Freud, quando Serge observou a moça esfregando o chão, de joelhos, com as nádegas para cima, ele se viu mais uma vez diante da postura que sua mãe assumira na cena da copulação. Para ele, a babá transformara-se em sua mãe, e isso provocou uma excitação sexual. Assim como seu pai, como sua ação ele interpretou como uma micção se comportou do mesmo modo diante dela. Sua micção no chão foi uma tentativa de sedução, e a garota reagiu a isso com uma ameaça de castração. Freud relata que a data limite que ele havia estipulado para seu paciente funcionou e, em um intervalo bastante curto, a análise produziu todo o material necessário para remover as inibições do paciente e remover seus sintomas. Parece então, pelo relato do caso, que não muito tempo depois da reconstrução desta cena quase- edípica, seu paciente curou-se. A evolução da técnica de Freud ­ O uso da hipnose. Embora Freud tivesse usado a hipnose desde que abriu seu consultório em 1887, ele inicialmente usara a técnica simplesmente para remover sintomas por intermédio da sugestão. Quando encontrou resultados desapontadores, ele mudou para o método catártico em decorrência do relato de Breuer sobre Anna O. Em 1889, no caso de Frau Emmy von N. pela primeira vez, Freud usou o método catártico de Breuer, para o tratamento de uma multiplicidade de queixas histéricas. Tentou remover os sintomas da paciente por meio de um processo de recuperação e verbalização dos sentimentos suprimidos, com os quais eles estavam associados. O método veio a ser conhecido como ab-reação. Freud logo ficou insatisfeito com a abordagem ab-reativa, ao observar que os benefícios terapêuticos duravam apenas enquanto o paciente mantinha contato com o médico. 

O relacionamento pessoal com o médico parecia ter maior importância terapêutica do que a técnica hipnótica em si mesma. Sua compreensão do relacionamento médico-paciente foi expandida por meio de um incidente no qual uma de suas pacientes acordou de um transe hipnótico e lançou seus braços ao redor do pescoço de Freud. Experiências como estas aliadas ao relato de Breuer sobre Anna O., levaram Freud a perceber que o apego do paciente ao médico apresentava um componente erótico. No entanto, ao invés de fugir em pânico de tais circunstâncias, como Breuer fizera, Freud investigou-as assim como o fez com quaisquer outros fenômenos que identificava no tratamento. Estes primeiros encontros levaram Freud a descobrir a transferência, um conceito que veio a tornar-se a pedra angular da teoria e da técnica psicanalíticas. A transferência significa o deslocamento para o analista de pensamentos, sentimentos e comportamentos originalmente associados às figuras importantes do passado. A descoberta de Freud da transferência contribuiu para o seu abandono da hipnose. Percebeu, neste momento, que a hipnose ocultava aspectos da transferência, de modo que eles não podiam ser investigados como parte do
processo, entendeu também, que a hipnose encorajava o paciente a agradar o hipnotizador, ao invés de aprender sobre as origens dos sintomas. Freud ainda observou que muitos pacientes eram simplesmente refratários à hipnose. O método da concentração e o desenvolvimento da livre associação - Uma das pacientes particularmente resistente à técnica ab-reativa hipnótica era Elizabeth von R. Freud desenvolveu seu método de concentração como um meio de lidar com a natureza refratária desta paciente. Recordou-se que Bernheim asseverara que todas as lembranças esquecidas poderiam ser recordadas conscientemente se o médico fizesse perguntas indutoras e instasse o paciente a lembrar. Freud pediu à paciente que deitasse em um divã e fechasse os olhos. Solicitou que ela se concentrasse em um sintoma particular e recordasse quaisquer lembranças que pudessem ajudar a entender a origem do mesmo. Freud então pressionava sua mão sobre a testa da paciente e tranqüilizava de que ela de fato recordaria lembranças relevantes quando ele indagasse sobre elas. Um grande mérito de Freud é que ele se permitia aprender com seus pacientes. Elizabeth von R., por exemplo, respondeu ao método da concentração dizendo a Freud: "Eu poderia ter contado isso a você na primeira vez, mas eu achei que era isso que você queria." Freud então modificou sua técnica, sugerindo aos pacientes que simplesmente ignorassem qualquer censura. Quando Elizabeth von R. o repreendeu por interromper o fluxo de pensamentos com suas perguntas, Freud modificou sua técnica novamente, reduzindo a freqüência de suas perguntas de modo a não interferir no fluxo natural das associações da paciente. No final da década de 1890, Freud já percebera que a técnica da concentração era mais um impedimento do que um facilitador. Abandonara o procedimento de dirigir a atenção do paciente, aplicar pressão sobre a testa, instruí-lo a fechar os olhos e fazer perguntas exploratórias. Ao invés disso, fazia o paciente deitar sobre o divã e dizer o que quer que lhe venha à mente, o método da livre associação que permanece como uma parte central da técnica psicanalítica atual. 

Aquilo que chamamos de teoria psicanalítica é, portanto, um corpo de hipóteses a respeito do funcionamento e do desenvolvimento da mente no homem. São, sem dúvida, as mais importantes contribuições que se realizaram até hoje em relação à psicologia humana.



Módulo 5 -    PRIMEIRA TÓPICA DO APARELHO PSÍQUICO



Freud empregou a palavra “aparelho” para caracterizar uma organização psíquica dividida em sistemas, ou instâncias psíquicas, com funções específicas para cada uma delas, que estão interligadas entre si, ocupando certo lugar na mente. Em grego, “topos” quer dizer “lugar”, daí que o modelo tópico designa um “modelo de lugares”, sendo que Freud descreveu a dois deles: a “Primeira Tópica” conhecida como Topográfica e a “Segunda Tópica”, como Estrutural.


A noção de aparelho psíquico como um conjunto articulado de lugares virtuais, surge mais claramente na obra de Freud em:  “A interpretação dos sonhos” de 1900, no qual, no célebre capítulo 7, ele elabora uma analogia do psiquismo com um aparelho óptico, de como esse processa a origem, transformação e o objetivo final da energia luminosa.

Nesse modelo tópico, o aparelho psíquico é composto por três sistemas: o inconsciente (Ics), o pré-consciente (Pcs) e o consciente (Cs). Algumas vezes, Freud denomina a este último sistema de sistema percepção-consciência.

O sistema consciente tem a função de receber informações provenientes das excitações provenientes do exterior e do interior, que ficam registradas qualitativamente de acordo com o prazer e/ou, desprazer que elas causam, porém ele não retém esses registros e representações como depósito ou arquivo deles. Assim, a maior parte das funções perceptivo-cognitivas-motoras do ego – como as de percepção, pensamento, juízo crítico, evocação, antecipação, atividade motora, etc., processam-se no sistema consciente, embora esse funcione intimamente conjugado com o sistema Inconsciente, com o qual quase sempre está em oposição.

O sistema pré-consciente foi concebido como articulado com o consciente e, tal como sugere no “Projeto”, onde ele aparece esboçado com o nome de “barreira de contato”, funciona como uma espécie de peneira que seleciona aquilo que pode, ou não, passar para o consciente.

Ademais, o pré-consciente também funciona como um pequeno arquivo de registros, cabendo-lhe sediar a fundamental função de conter as representações de palavra, conforme foi conceituado por Freud, 1915.

O sistema inconsciente designa a parte mais arcaica do aparelho psíquico. Por herança genética, existem pulsões, acrescidas das respectivas energias e “protofantasias”, como Freud denominava as possíveis fantasias atávicas que também são conhecidas por “fantasias primitivas, primárias ou originais”. As pulsões estão reprimidas sob a forma de repressão primária ou de repressão secundária.

Uma função que opera no sistema inconsciente e que representa uma importante repercussão na prática clínica é que ela contém as representações da coisa. Portanto, numa época em que as representações ficaram impressas na mente quando ainda não havia palavras para nomeá-las. Funcionalmente, o sistema inconsciente opera segundo as leis do processo primário e, além das pulsões do id, tem também muitas funções do ego, bem como do superego.
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INCONSCIENTE

É o conteúdo ausente, em um dado momento, da consciência, que está no centro da teoria psicanalítica. O adjetivo inconsciente é por vezes usado para exprimir o conjunto dos conteúdos não presentes no campo efetivo da consciência, isto num sentido “descritivo” e não “tópico”, quer dizer, sem se fazer discriminação entre os conteúdos dos sistemas pré-consciente e inconsciente.

No sentido “tópico”, inconsciente designa um dos sistemas definidos por Freud no quadro da sua primeira teoria do aparelho psíquico. É constituído por conteúdos recalcados aos quais foi recusado o acesso ao sistema pré-consciente-consciente pela ação do recalque originário e recalque a posteriori. Freud acentuou desde o início que o sujeito modifica a posteriori os acontecimentos passados e que essa modificação lhes confere um sentido e mesmo uma eficácia ou um poder patogênico.

Podemos resumir do seguinte modo as características essenciais do inconsciente como sistema (ou Ics):

a) Os seus “conteúdos” são “representantes” das pulsões;
b) Estes “conteúdos” são regidos pelos mecanismos específicos do processo primário, principalmente a condensação e o deslocamento;
c) Fortemente investidos pela energia pulsional, procuram retornar à consciência e à ação (retorno do recalcado); mas só podem ter acesso ao sistema Pcs-Cs nas formações de compromisso, depois de terem sido submetidos às deformações da censura.
d) São, mais especialmente, desejos da infância que conhecem uma fixação no inconsciente.

A abreviatura Ics (Ubw do alemão Unbewusste) designa o inconsciente sob a sua forma substantiva como sistema; ics (ubw) é a abreviatura do adjetivo inconsciente (unbewusst) enquanto qualifica em sentido estrito os conteúdos do referido sistema.

No quadro da segunda tópica freudiana, o termo inconsciente é usado, sobretudo na sua forma adjetiva; efetivamente, inconsciente deixa de ser o que é próprio de uma instância especial, visto que qualifica o id e, em parte, o ego e o superego. Mas convém notar que as características atribuídas ao sistema Ics na primeira tópica são de um modo geral atribuídas ao Id na segunda. A diferença entre o pré-consciente e o inconsciente, embora já não esteja baseada numa distinção intersistêmica, persiste como distinção intra-sistêmica (o ego o superego são em parte pré-conscientes e em parte inconscientes).

O sonho foi para Freud o caminho por excelência da descoberta do inconsciente. Os mecanismos (deslocamento, condensação, simbolismo) evidenciados no sonho em “A interpretação de sonhos” de 1900 e constitutivos do “processo primário” são reencontrados em outras formações do inconsciente (atos falhos, chistes, lapsos, etc.), equivalentes aos sintomas pela sua estrutura de compromisso e pela sua função de “realização de desejo”.

O inconsciente freudiano é, em primeiro lugar, indissoluvelmente uma noção tópica e dinâmica, que brotou da experiência do tratamento. Este mostrou que o psiquismo não é redutível ao consciente e que certos “conteúdos” só se tornam acessíveis à consciência depois de superadas certas resistências.

O termo “inconsciente” havia sido utilizado antes de Freud para designar de forma global o não-consciente. Freud afasta-se da psicologia anterior, por uma apresentação metapsicológica, isto é, por uma descrição dos processos psíquicos em suas relações dinâmicas, tópicas e econômicas. Este é o ponto de vista tópico, que permite localizar o inconsciente.

Uma tópica psíquica não tem nada a ver com a anatomia, refere-se aos locais do aparelho psíquico. Este é “como um instrumento” composto de sistemas, ou instâncias, interdependentes.

O aparelho psíquico é concebido sobre o modelo de um aparelho reflexo, do qual uma extremidade percebe os estímulos internos ou externos, encontrando sua resolução na outra extremidade, a motora.

É entre esses dois pólos que se constitui a função de memória do aparelho, sob a forma de traços mnésicos deixados pela percepção que é conservado, mas sua associação, por exemplo, conforme a simultaneidade, a semelhança, etc. A mesma excitação encontra-se, portanto, fixada de forma diferente nas diversas camadas da memória. Como uma relação de exclusão liga as funções da memória e da percepção, é preciso admitir que nossas lembranças tornam-se logo inconscientes.

No artigo “O inconsciente” em 1915, Freud denomina-os “representante da pulsão”. Com efeito, a pulsão, na fronteira entre o somático e o psíquico, está aquém da oposição entre consciente e inconsciente; por um lado, nunca se pode tornar objeto da consciência e, por outro, só está presente no inconsciente pelos seus representantes, essencialmente o “representante-representação”.

Para Freud, é pela ação do “recalque” infantil que se opera a primeira clivagem entre o inconsciente e o sistema Pcs-Cs. O inconsciente freudiano é “constituído”, apesar de o primeiro tempo do recalque originário poder ser considerado mítico; não é uma vivência indiferenciada.

*      PRÉ-CONSCIENTE

Como substantivo, designa um sistema do aparelho psíquico nitidamente distinto do sistema inconsciente (Ics); como adjetivo, qualifica as operações e conteúdos desse sistema pré-consciente (Pcs).

Estes não estão presentes no campo atual da consciência e, portanto, são inconscientes no sentido “descritivo” do termo, mas distingue-se dos conteúdos do sistema inconsciente na medida em que permanecem de direito acessíveis à consciência (conhecimentos e recordações não atualizados, por exemplo).

Do ponto de vista metapsicológico, o sistema pré-consciente rege-se pelo processo secundário. Está separado do sistema inconsciente pela censura, que não permite que os conteúdos e os processos inconscientes passem para o Pcs sem sofrerem transformações.

No quadro da segunda tópica freudiana, o termo pré-consciente é sobretudo utilizado como adjetivo, para qualificar o que escapa à consciência atual sem ser inconsciente no sentido estrito. Do ponto de vista sistemático, qualifica conteúdos e processos ligados ao ego quanto ao essencial, e também ao superego.

Desde cedo Freud estabelece a diferença durante a elaboração de suas considerações metapsicológicas. Em “A interpretação de sonhos” em 1900, o sistema pré-consciente está situado entre o sistema inconsciente e a consciência; está separado do primeiro pela censura, que procura barrar aos conteúdos inconscientes o caminho para o pré-consciente e para a consciência; na outra extremidade, comanda o acesso à consciência e à motilidade.
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           CONSCIENTE

No sentido descritivo, é a qualidade momentânea que caracteriza as percepções externas e internas no conjunto dos fenômenos psíquicos. Segundo a teoria metapsicológica de Freud, a consciência seria função de um sistema, o sistema percepção-consciência (Pcs-Cs).

Do ponto de vista tópico, o sistema percepção-consciência está situado na periferia do aparelho psíquico, recebendo ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as provenientes do interior, isto é, as sensações que se inscrevem na série desprazer-prazer e as revivescências mnésicas. Muitas vezes Freud liga a função percepção-consciência ao sistema pré-consciente (Pcs-Cs).

Do ponto de vista funcional, o sistema percepção-consciência opõe-se aos sistemas de traços mnésicos que são o inconsciente e o pré-consciente: nele não se inscreve qualquer traço durável das excitações. Do ponto de vista econômico, caracteriza-se pelo fato de dispor de uma energia livremente móvel, suscetível do sobre-investir este ou aquele elemento (mecanismo da atenção).

A consciência desempenha um papel importante na dinâmica do conflito (evitação consciente do desagradável, regulação mais discriminadora do princípio de prazer) e do tratamento (função e limite da tomada de consciência), mas não pode ser definida como um dos pólos em jogo no conflito defensivo.

Uma vez recusada a identificação do psiquismo com o consciente, restava a Freud investigar em que condições precisas o psiquismo vem a adquirir essa propriedade de ser consciente.

A questão podia ser formulada então em dois terrenos. Seja um terreno reflexivo, numa determinação conceitual mais ou menos tributária da tradição; seja a partir do saber acumulado pela psicanálise. O primeiro desses pontos de vista é demonstrado na época da correspondência com Fliess, quando Freud recorre a Lipps. De fato, no tempo do “Projeto para uma psicologia científica”, Freud se distanciará de Lipps na medida em que falará de deslocamentos de energia psíquica ao longo de certas vias associativas e da persistência de traços quase indeléveis.

Considerando o consciente, pré-consciente e inconsciente, cuja significação não é mais puramente descritiva, vamos admitir que o pré-consciente está mais próximo do consciente que o inconsciente e, o latente ao pré-consciente.

Do primeiro ponto de vista, “a consciência constitui a camada superficial do aparelho psíquico”. Em outras palavras, escreve Freud em “O eu e o isso”, “vemos na consciência uma função que atribuímos a um sistema que, do ponto de vista espacial, é o mais próximo do mundo externo.

Essa proximidade espacial deve ser entendida não apenas no sentido funcional, mas também no sentido anatômico. Assim também nossas pesquisas devem, por sua vez, tomar como ponto de partida essas superfícies que correspondem às percepções.